quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A interatividade

Atualmente, ampliou-se o termo interação e costuma-se utilizar o termo interatividade quando nos referimos às interações que acontecem com a participação de TIC. O termo interatividade sugere abertura para uma idéia de “um mais comunicacional” (SILVA, 1998), para um tipo de comunicação que rompe com as idéias de linearidade, massividade e recepção passiva da comunicação tradicional. É uma nova lógica de comunicação que tem um sentido de abertura e de indeterminância, deixando “no ar” um convite aos participantes para serem co-autores.

Nesse sentido, interatividade é a disposição para mais interação, mais trocas, mais intervenções e construções conjuntas. Essa disposição para mais abertura não fica restrita aos meios digitais. É uma predisposição do indivíduo, que se encontra em suas tendências naturais: quando não há necessidade de garantir a sobrevivência, os indivíduos se comportam de forma a aumentar o número de trocas e a promover a extensão do meio, bem como para aumentar sua mobilidade nesse meio (PIAGET, 1996a).

A interatividade que as TIC proporcionam, dependendo da concepção de conhecimento e aprendizagem do professor, pode representar o grande diferencial da EAD, originando uma mudança radical nos processos ensino-aprendizagem. O professor, na sala de aula presencial, dificilmente consegue dar “voz e vez” a todos os alunos, para que expressem seus pensamentos. A comunicação, na maior parte do tempo, acontece de forma linear, nas linhas do “pensar cartesiano”. Com as TIC e suas possibilidades de interatividade, o professor poderá quebrar a lógica linear e criar suas aulas a partir de uma lógica aberta, complexa, dando lugar para o “pensar complexo” (PRETTO, 2006).

Com essas possibilidades, professor e alunos poderão usar mais e melhor suas capacidades criativas. A preparação da aula passa a incluir um grande processo de criação de cenários e estratégias de ação, de territórios a serem explorados pelos alunos, deixando sempre uma abertura para novas conexões, porém, fundamentalmente, com um quê de indeterminâncias e desafios, tendo-se em vista estimular a curiosidade dos alunos. Uma verdadeira obra de criação que exige abertura e sensibilidade para conhecer os viajantes desses cenários. O aluno viaja por territórios abertos e faz sua própria rota, incluindo desvios, paradas não previstas, construção de territórios anexos, atuando como um co-autor na construção de cada novo território. Para alunos e professores, são claras as idéias de mudança, de criação, de abertura para novos possíveis, de movimento constante.

No entanto, é importante retomar esta questão das TIC, ou seja, o fato de apresentarem tantas possibilidades de interação não garante que esse processo resulte em uma educação mais qualificada para o aprendente. O que certamente fará diferença é a forma como os docentes concebem a origem e a evolução do conhecimento e da aprendizagem, sua forma de ver as outras pessoas e o entendimento que eles têm sobre a repercussão da qualidade das interações no desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos. A utilização real dos recursos da interatividade, conforme referido anteriormente, só irá acontecer se os professores entenderem que os sujeitos aprendem na interação com o objeto de conhecimento. Se estes professores forem pessoas afetivas e chegarem bem próximo de seus alunos, acreditando que a afetividade é que os move. Só assim entenderão que os alunos gostam e têm o direito de serem bem tratados, com liberdade de expressão e de criação.

Tendo como fundamento do ensino teorias de aprendizagem que valorizem a ação e a qualidade da interação e o aluno – o outro de forma geral – como detentor de inúmeras potencialidades – a Educação, em especial a EAD com suas ferramentas de interatividade, poderá dar o salto qualitativo tão almejado por tantos educadores.

EAD de qualidade?



Mas, o que se considera “qualidade” em EAD? Quem é o bom professor em EAD? Quem é o bom aluno? Que opções pedagógicas são aconselháveis? Com quais objetivos? Enfim, vários questionamentos nos rodeiam...


Respostas para estas indagações passam, necessariamente, por discussões longas, quase intermináveis, se considerarmos que o ser humano sempre procura atingir patamares superiores aos anteriormente atingidos. Porém, algumas questões “requerem” soluções imediatas.


Considerando-se que uma boa definição de EAD salienta a questão do distanciamento físico entre professor e aluno e a utilização dos mais modernos recursos das TIC (Tecnologias da Informação e da Comunicação), poderíamos nos ater às questões que se alteram com estas duas características.


Quanto ao distanciamento físico que existe entre professor e aluno, pode-se começar estabelecendo uma comparação com o que acontece na educação presencial: esta última constitui-se em garantia de aproximação real entre o professor e seus alunos? Isto é, traduz-se em empatia? Até se pode dizer que representa a possibilidade de empatia, sim: olho no olho, sentindo o aluno, suas alegrias, angústias, compreensões... Seguindo nesta linha, a educação presencial, potencialmente, tem características de individualização. Como fica a questão da empatia (possibilidade de colocar-se no lugar do outro e sentir suas emoções) na EAD? Como o professor na modalidade EAD pode “sentir” seu aluno e individualizar seu estudo? A EAD tem recursos para este fim? Sim, com certeza! A EAD apresenta mais recursos que a educação presencial para conhecer o aluno e para manter-se em comunicação com ele ou interagir. Cabe ao professor saber, poder e querer utilizá-los.

Mas, existe um aspecto referente aos recursos das TIC que, por sua relevância será tratado de forma especial: a interatividade.

Educação a Distância

Sem dúvida, vive-se uma época de profundas e velozes transformações em todas as áreas de atuação humana. Para uma esfera da população, o grande e estonteante desafio é manter-se atualizado, é estar continuamente aprendendo. No entanto, para a outra esfera deste povo, bem mais numeroso, esta possibilidade não existe. O homem foi capaz de grandes criações e descobertas, que infelizmente não tiveram como objetivo beneficiar a totalidade das pessoas. Muito pelo contrário, apenas um terço da população usufrui deste “progresso”, deixando os outros dois terços à margem de tudo ou, pior ainda, contribuindo com a parte “suja” que favorece o “progresso”: uso indevido de recursos humanos e naturais.

O progresso do conhecimento científico e a difusão dos computadores, as tecnologias avançadas, em especial das telecomunicações criaram um mundo à parte, onde a individualidade, a diversidade, a especificidade cada vez mais se fazem presentes. O mundo, hoje, é um lugar instável em todos os sentidos, onde até o conhecimento é provisório e a única certeza é a incerteza.

A Educação vem encontrando grandes dificuldades de adaptação às exigências dos tempos atuais. Nas escolas, assim como nos locais de trabalho e nas próprias famílias, convivem gerações com características diferentes: uma formada para obedecer, para “fazer as coisas como elas sempre foram feitas”, convivendo com pequenos grupos; outra que já viveu a maior parte de sua vida num contexto que lhe exige mais atos de autonomia e criação, que necessita resolver problemas sempre novos e que precisa estar constantemente em inter-relacionamento, face à complexidade das modernas atividades e à imensa interconexão existente no nosso mundo globalizado. Assim, as gerações que receberam uma educação – formal e familiar - baseada no uso da memorização, no controle, na reprodução do conhecimento, na obediência e na padronização, encontram dificuldades maiores de adaptação.


Atualmente, quando se fala em ensinar-aprender, necessariamente se está fazendo alusão a algum instrumento da moderna tecnologia, ainda que nem todos os ambientes educacionais tenham acesso a ele. As instituições de caráter educacional, denominadas de escolas ou de universidades, são apenas alguns dos locais onde se aprende. Apesar de já existir esse reconhecimento, nem sempre foi assim, a não ser para os temas mais elaborados e complexos, que se encontravam apenas na cabeça dos professores. Atualmente, com o avanço das pesquisas e decorrente produção de instrumentos para as áreas de Informática e Telecomunicações, qualquer informação está ao alcance de todos. Neste sentido, a função de transmitir informações, própria dos ambientes educacionais, foi alterada: não deixou de existir, mas está diferente. O acesso à informação está disponível a todos, criam-se cenários e estratégias com um sentido de indeterminância, de abertura para novos possíveis, como um convite ao aluno à participação, à co-autoria.


E o papel do professor como fica? Não fica! Transforma-se! Mas, qual será sua função agora, se não foi educado nesses moldes?

O contexto torna-se confuso para este professor, que já não tem mais certezas sobre seu papel...

Um exame mais minucioso pode nos mostrar que, com certa freqüência, as TIC estão sendo utilizadas de acordo com o paradigma dominante da ciência moderna (MORAES, 2002). Em decorrência disso, estão promovendo práticas pedagógicas tecnologicamente sofisticadas, porém empobrecidas do ponto de vista pedagógico. Tais práticas têm servido de reforço ao paradigma tradicional de educação, baseado em aspectos como a transmissão da informação e a compartimentalização entre razão e emoção nos processos de aprendizagem.

No entanto, pesquisas em universidades já indicaram que as TIC são capazes de favorecer o desenvolvimento da autonomia e da cooperação (RAMOS, 1996; XAVIER, 2000), a expressão da sensibilidade, da criatividade e a formação de novos valores (PELLEGRINO, 2001), o desenvolvimento do pensamento reflexivo (VALENTE, 1999), as dimensões da racionalidade (FAGUNDES, 1999), sinalizando que seu uso pode contribuir para os processos de aprendizagem de conceitos, valores e atitudes.

Moraes (2002) argumenta que as tecnologias estão sendo usadas para camuflar velhas teorias, porque não existe um modelo de formação de professores para o uso das TIC, inspirado num paradigma mais aberto, dinâmico, construtivista, crítico, humanista e criativo.
Mas, como os professores poderão aprender a usar as TIC de acordo com um paradigma que enfatiza a solidariedade? Nevado (2001) nos diz que os modelos de formação de professores, que atuam em ambientes informatizados de aprendizagem, poderão ser promotores de inovações nas práticas pedagógicas. Haverá avanços neste sentido, se a proposta de formação de professores for baseada no paradigma interacionista-construtivista, com ênfase na construção de conhecimento contextualizado e cooperativo. O principal aporte teórico dessa proposta pode ser encontrado na Epistemologia Genética, nos conceitos de auto-organização ou eco-organização e em alguns princípios do pensamento holístico.

Refletindo sobre EAD, qual o tipo de conhecimento que deveria permear as relações interindividuais em EAD? Para Santos (2002), a difusão do conhecimento-solidariedade, tanto na educação presencial, como na educação à distância, parece configurar-se na possibilidade de se cumprir as promessas de democratização da Educação, diminuindo as grandes diferenças sócio-econômicas existentes.

Discutindo Educação e inovações

O que está sendo colocado no topo da escala de valores da humanidade e de cada um, individualmente?

Que maneiras de pensar e sentir vêm sendo disseminadas?

A Educação pode mudar esse processo?

O que nós, educadores, podemos fazer no sentido de contribuir para a formação de indivíduos mais conscientes da necessidade vital de equilíbrio entre os homens e entre homens e natureza?

As novas tecnologias podem ser usadas para favorecer a construção de um mundo mais harmonioso? Ou podem ser instrumentos para distanciar ou eliminar os homens, de forma geral?